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terça-feira, 30 de setembro de 2008

Preleções – além do senso comum

Se consultarmos em um dicionário a definição da palavra preleção, encontraremos (dentre outras que se aproximam), a de que ela é um tipo de “discurso” ou “conferência didática”.

Certamente muitos de nós, quando escutamos falar em preleção, rapidamente somos remetidos ao pensamento da conversa pré-jogo ou competição, como um complemento ou suplemento final de informações sobre o jogo ou como uma “injeção” motivacional voltada para a partida. Devemos no entanto olhá-la também como possibilidade presente durante as sessões de treinamento (e aí talvez muitos digam que preleção em treino é reunião, e não preleção).

Independente do nome que damos a ela, a preleção é uma ferramenta didática importante que se utilizada antes de um jogo, completa um ciclo de trabalho planejado para a partida. Se utilizada na semana de treinamentos auxilia na composição mais eficaz do trabalho (solucionando dúvidas, problemas e dando significado e mais consistência aos treinos).

Quando se acaba uma partida, o treinador já deveria estar concentrado na próxima, de tal forma que a conversa pós-jogo (que é necessária sim!) seja o marco inicial dos preparativos para o jogo seguinte (ou seja ela deve ser pensada como primeira preleção para o próximo jogo).

Se entendermos a semana de trabalho que prepara para uma partida, como parte de um processo, olhemos a preleção pré-jogo como final dessa “parte”.

Ingenuamente corremos o risco de acreditar que essa preleção pré-jogo representa momento único e exclusivo para sensibilizar jogadores a colocarem suas “vidas” em campo. Daí, atribui-se com certa freqüência, como resposta ao mau desempenho em campo, a ineficiência da preleção em injetar ânimo nos atletas.

A preleção pode e deve sim, colaborar como algo a potencializar o desempenho atlético. Mas assim é também a semana de trabalho. Todo dia, o tempo todo, cada treino deve ser uma oportunidade única dentro do processo para dar significado àquilo que se treina (significado físico-técnico-tático-mental). A motivação para o jogo precisa nascer nos treinos. A motivação para os treinos deve partir da significação dos mesmos.

Dar significado representa transcender barreiras culturais (para não deixar o treinador refém do idioma quando trabalha em outros países por exemplo).

Creio realmente em um conceito de preleção que perspectiva outro paradigma, que não o concebido normalmente.

Façamos uma reflexão:

Nas sessões de treinamento defendo uma estrutura de treino enunciada na obra “Pedagogia do Futebol” do professor João Batista Freire. Nessa estrutura o treino/aula é caracterizado por cinco momentos específicos. Concentremo-nos nos momentos um e cinco dessa estrutura.

O momento um refere-se a conversa inicial do treino (onde resgata-se discussões sobre os conteúdos do processo, temas extra-treino que complementam o treinamento ou a formação do jogador e onde também se discute o que virá na sessão de treino propriamente dita). O momento cinco refere-se a conversa final do treino (onde discute-se o que fora realizado no treino, problemáticas, soluções, buscando consolidar a significação das atividades realizadas).

Cada treino então é uma esfera integrada de atividades que contempla dentre outras coisas, pelo menos duas conversas didáticas (conversa não é monólogo!).

Ao transferir a mesma estrutura (estrutura da sessão de treino) para uma semana competitiva (por exemplo com um jogo no domingo e outro na quinta-feira) abordaríamos a conversa pós-jogo do domingo como oportunidade para preparar a equipe para o jogo da quinta-feira.

Então a conversa pós-jogo do domingo seria a conversa inicial preparativa para o jogo da quinta (ao mesmo tempo em que é conversa final do jogo de domingo).

A preleção pré-jogo da quinta, seria conversa final da semana que começou no domingo ao mesmo tempo em que é conversa inicial do jogo propriamente dito.

A todo momento, se entendermos a preleção como “conferência” ou conversa didática, seja na sessão de treinamento, seja no pré-jogo, seja na semana de trabalho, é primordial que (como ferramenta didática) ela possa atingir a todos os atletas (visuais, auditivos e cinestésicos) e aumentar a eficácia do processo. Para isso treinadores devem estar atentos a todos os recursos que possam potencializar esse momento.

As preleções precisam ser complemento técnico-tático-físico-mental e não simplesmente “motivacional”.

As preleções devem ser entendidas como trechos de um caminho, elementos de um processo;não como algo com fim em si mesmo.


Rodrigo Leitão

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